Combate ao racismo, igualdade salarial e mais repeito são algumas das demandas das mulheres
Elas vivem em um país desigual, com altos índices de violência e feminicídio, com reformas trabalhista e da previdência que retiram direitos, mas elas não se intimidam. “Não temos tempo para ter medo. Temos que lutar e a nossa luta tem que ser vista”, Essa é Adenilde Petrina Bispo (66), mulher, negra, professora e moradora de Juiz de Fora. São mulheres como ela, que atuam nas periferias, nas lideranças sindicais, comunitárias e trabalhadoras de diversas áreas, que fazem a diferença no nosso país. São essas mulheres que merecem nosso reconhecimento para além do dia 8 de março, dia Internacional das Mulheres.
Moradora do bairro Santa Cândida, Adenilde conta que a sua história se incia na década de 70, quando ela começou a “correr atrás de melhorias” para a periferia. “Quando cheguei eu comecei criando um movimento de bairro, porque não tinha água, nem esgoto, não tínhamos condições básicas de sobrevivência”, afirma.
Com o tempo, ela foi ampliando a luta e estruturando o movimento negro, do hip hop e das rádios comunitárias na periferia onde mora. Sua luta perpassa pela inclusão da juventude, pela democratização dos meios de comunicação e valorização de negros e negras. Hoje ela atua com dezenas de jovens, de 14 à 17 anos, por meio de projetos que fomentam a cultura negra, a leitura de poesia, além de valorização da periferia.
“A periferia é o quarto de despejo da cidade. A minha batalha diária é mostrar, por meio da arte, da cultura hip-hop e dos movimentos culturais, o valor e a arte que só a periferia têm”,conta.
Adenilde relata ainda que sua batalha é também pelo reconhecimento das mulheres da periferia, que desde cedo estão no mercado de trabalho e lutando por mais respeito. “A demanda da mulher negra não é só contra o racismo, é também nos ambientes de trabalho. Nosso desafio cada vez mais é mostrar o nosso valor. Porque afinal de contas, somos chefe de família, trabalhamos desde cedo e não podemos nos intimidar”, conclui.
A história de Adenilde não é única, são milhares de trabalhadoras anônimas que lutam diariamente por melhores condições de trabalho e salário, por mais respeito nos ambientes sociais e por igualdade em todo e qualquer contexto. São para essas mulheres os nossos reconhecimento. Em um momento de seguidos ataques à classe trabalhadora, com destaque para a proposta de reforma da previdência, que ataca diretamente mulheres e as professoras, é preciso exaltar aquelas que batalham como verdadeiras guerreiras por uma sociedade melhor, ensinando e educando.
Sandra Jesus, dirigente do Sindicato dosTrabalhadores nas empresas de Telecomunicação (Sinttel)
“Apesar de ter uma forte influência em casa, pois minha mãe era uma mulher muito forte e entendida sobre a importância da mulher, fui apresentada ao movimento por uma amiga. Essa interação foi fundamental, porque despertou em mim questões que geralmente eu banalizava”, afirma.
Para ela, a luta diária é “ousar e resistir em ambiente de domínio masculino”. É manter a discussão de gênero e raça nos espaços de debate e poder. É expandir a sua luta para milhares de pessoas como eu”, afirma reforçando que se sente “orgulhosa porque por meio do trabalho na representação da categoria, minha luta ganha voz. Com as retiradas de direitos deste desgoverno é imprescindível consolidar as lutas e como defensora dos trabalhadores, digo que os espaços serão verdadeiramente democráticos se houver grande participação do povo negro. Então fica um pedido, mulheres venham para os seus sindicatos. Somos imbatíveis juntas”, reforçou.
Para a professora de português, Irani Salgado Silva Machado (52), a luta tem sido dentro e fora da sala de aula. “Minha luta é executar uma educação eficiente, boa e que dê frutos. Se a gente dessa luta diária, os alunos também desistem e eu não acho, que como educadora eu tenho esse direito”, conta a professora que se orgulha de os quatro filhos terem ingressado no ensino superior.
Há 32 anos como professora na rede particular e também na pública, Irani conta que apesar de sempre tirar as dificuldades de letra, sabe na pele peso de ser mulher no Brasil. “As dificuldades das mulheres são muitas, dentro e fora da sala de aula. Temos a questão salarial, o preconceito por ser negra, por trabalhar em uma escola particular. Mas isso não me intimida eu continuo achando que a minha vocação é lecionar”, reforça.
Apesar das dificuldades, ela conta que nem pensa em se aposentar porque afinal de contas, as lutas são diárias. “Minha luta como mulher é por mais respeito. A gente não quer ser mais ou menos do que os homens, queremos ser aceitas como somos, dentro do limite familiar, sexual, profissional. Essa divisão de valores que existe hoje na sociedade não pode existir. Queremos ter direitos, e que eles sejam respeitados”, conclui.
Mulheres lutam, mas a luta é intensa e merece toda atenção
A vida da auxiliar de limpeza Rosângela Santos Oliveira (47) não foi fácil. Grávida aos 16 anos, ela lembra as dificuldades e o histórico de violência doméstica por parte de um dos seus companheiros. Hoje, com seis filhos, ela sabe que feminicídio é crime, mas lembra que na época não contava com nenhum tipo de ajuda. “Nunca tive apoio de nenhum companheiro”, lembra que desde sempre, teve que ser pai e mãe.
Hoje ela conta que olha para o passado e vê como é difícil ser mulher, mas que apesar das dificuldades a maternidade trouxe satisfação para a sua vida. “Minha luta é ter força para amar e cuidar dos meus filhos. Eu sei que é muito difícil ser mulher, o machismo ainda é muito grande, mas eu não desisto”, afirma.
A luta é longa, e os dados não negam. Segundo levantamento do Datafolha feito em fevereiro encomendada pela ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), nos últimos 12 meses, 1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento no Brasil, enquanto 22 milhões (37,1%) de brasileiras passaram por algum tipo de assédio.
Quando o assunto é violência doméstica, 42% das mulheres são vítimas, sendo que desse total, mais da metade das mulheres (52%) não denunciou o agressor ou procurou ajuda. O nosso recado nesse dia mundialmente lembrado é pela igualdade, respeito e valorização das pautas feministas. Mulheres, estamos com vocês.
Conheça o significado do Dia Internacional das Mulheres
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No final do século 19, organizações de mulheres oriundas de movimentos operários protestavam em vários países da Europa e nos Estados Unidos contra jornadas de trabalho de aproximadamente 15 horas diárias e os salários extremamente baixos.
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No dia 28 de fevereiro de 1909 nos Estados Unidos, na cidade de Nova York, ocorreu um protesto que reuniu mais de 3 mil pessoas, inclusive com a participação de homens trabalhadores que apoiavam as lutas das mulheres.
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Em novembro de 2009, uma longa greve têxtil na maioria feita por mulheres fechou 500 fábricas no país. O movimento se estendeu para outros países, em particular na Europa. As manifestações uniam mulheres do movimento sindical e partidos políticos, que lutavam por igualdade de direitos econômicos, sociais e trabalhistas, ao movimento sufragista, que lutava por igualdade de direitos políticos.
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No dia 8 de março de 1917, aproximadamente 90 mil operárias manifestaram-se contra o Czar Nicolau II, pelas más condições de trabalho, a fome e a participação russa na guerra – em um protesto conhecido como “Pão e Paz” – que a data consagrou-se, embora tenha sido oficializada como Dia Internacional da Mulher, apenas em 1921.
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No Brasil, as mobilizações em prol dos direitos das mulheres surgiram no início do século 20, que buscavam, assim como nos demais países, melhores condições de trabalho e qualidade de vida. A luta das mulheres ganhou força com o movimento das sufragistas, nas décadas de 1920 e 30, conquistando o direito ao voto em 1932, na Constituição promulgada por Getúlio Vargas.