Betão saiu às ruas de BH, conversando com a população e lembrando que a luta é ampla: pela educação, contra a reforma da Previdência e por Lula Livre
De volta às ruas, estudantes, professores, representantes de sindicatos e movimentos estudantis saíram em marcha por todo país nessa quinta-feira para reforçar o recado ao governo Bolsonaro de que não aceitarão os cortes anunciados para a educação. Em Belo Horizonte, o ato saiu da Praça Afonso Arinos rumo à Praça 7 com estimativa de que mais de 200 mil pessoas tenham se unido para protestar e discutir os rumos da educação no país. Em coro, estudantes e manifestantes gritavam,”nas ruas, nas praças, quem disse que sumiu? Aqui está presente o movimento estudantil”.
Presente no ato da capital mineira, o deputado Betão (PT) fez questão de falar para o mar de gente que ocupou a praça, a importância de se lutar contra a política de desmonte não só da educação, mas de outros setores do país. “Sou professor de Juiz de Fora, cidade que também registrou seu protesto e gostaria de falar que a luta de hoje é contra os cortes na educação, mas é também uma luta contra a reforma da Previdência. Reforma que só atenderá os interesses dos banqueiros. Balbúrdia é o que esse governo está fazendo com a educação, por isso a gente tem que se unir em torno de duas causas, a Greve Geral do dia 14 de junho e a liberdade de Lula. Essas lutas não podem ser desassociadas”, falou.
Quem entendeu bem a importância e a força da educação no país é o estudante de química da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Caio Antônio. Ele conta que estava em Viçosa no dia 15 de maio, mas que fez questão de vir à BH lutar junto a outros universitários contra a manutenção dos cortes. Para ele, caso se mantenha essa política de contingenciamento, a faculdade estará ameaçada. “Esses cortes vão acabar com a universidade. Tem alunos que recebiam bolsas e que não vão receber mais. Além de uma ruptura na educação, essa medidas vão tirar universitários das instituições, porque eles não terão como se sustentar”, disse reafirmando que também está preocupado com a falta de recurso para pagamento das despesas emergenciais como água, luz e até papel higiênico.
Fernanda Basílios, que nem ingressou na faculdade, e tem previsão de iniciar as aulas no segundo semestre no Instituto Federal de Minas Gerais diz estar muito preocupada com o futuro do IFMG e de outros Institutos como esse. “A notícia que eu tenho é que não tem papel higiênico lá. Como um governo pode fazer isso com a educação? Não estamos falando de custos, estamos falando de despesas básicas. Estou com muito medo de como será o futuro”, afirma.
Futuro esse que já chegou para Ana Pacheco, representante do DCE da UFMG. Ela relata que hoje a universidade teme não poder honrar com as contas básicas dos próximos meses. Para ela, agora é hora de união para alavancar não só a educação, mas também combater os retrocessos contra os trabalhadores e a reforma da Previdência. “A luta estudantil não pode estar desatrelada à luta dos trabalhadores. Essas duas lutas caminham juntas, até porquê, na universidade temos trabalhadores, menos do que a gente queria, até porque tem muitos filhos de trabalhadores que não conseguem acessar uma universidade. Por isso hoje é importante, mas também temos que falar do combate à reforma da Previdência”, acredita.
Juiz de Fora vai às ruas em defesa da educação
Em Juiz de Fora o Parque Halfeld recebeu novamente milhares de estudantes, professores e demais categorias de trabalhadores, que se reuniram em um grande ato que seguiu em marcha até a Praça da Estação. A palavra de ordem foi ” a nossa luta unificou é estudante junto com trabalhador”, que deu o tom da manifestação. Os protestos foram além dos cortes de verbas para a educação, mas também contra a reforma da Previdência e por Lula Livre, já convocando a população para a Greve Geral do dia 14 de junho.
“Estamos vendo uma continuidade do dia 15, quando tivemos atos acontecendo pelo Brasil todo, reunindo pessoas preocupadas com a educação no país”, afirma Jalon de Morais Vieira, diretor da Associação dos Professores do Ensino Superior (APES – JF). Para ele, o povo tem que ir às ruas mostrar sua indignação com a política de cortes que fere e desconstrói o trabalho desenvolvido nas instituições.
“Com os cortes perdemos as bolsas, auxílios destinados aos alunos, os trabalhos de pesquisa e extensão. Então, esse momento é de extrema importância para que a gente possa mostrar que não estamos satisfeitos. Espero que a gente fortaleça ainda mais nossas ações para que o dia 14 de junho seja histórico”, finaliza.
Já para Renê Mattos, presidente do diretório do Partido dos Trabalhadores de Juiz de Fora e ex-reitor da UFJF “a obrigação dos militantes é estar na rua para dizer não à política implantada por esse governo”. Renê, que também representou o PT, disse que sente muito orgulho de estar em um ato convocado pelos estudantes. “Há 50 anos, eu estava no DCE tentando resistir à ditadura. É preciso que o jovem saiba o que foi aquele tempo e é preciso que a militância esteja na luta, ocupando as ruas em defesa dos nossos direitos e por Lula Livre. Nós temos que resistir”, desabafa.
Clea Moraes, diretora do Sindicato dos Professores de Juiz de Fora conta que o Sinpro-JF chamou uma paralisação para o dia de hoje com adesão de 90% da categoria. “Estamos neste ato somando forças à convocação da UNE, junto a muitos trabalhadores e jovens que sabem o que significam esses cortes na educação, desde a educação básica até o ensino superior”, afirma.
A diretora lembrou que o ato também é contra a reforma da Previdência e uma preparação para a Greve geral de 14 de junho. “Essa reforma é o enterro da aposentadoria. Serão gerações que não conseguirão se aposentar com o fim da previdência pública. precisamos nos mobilizar para uma grande Greve Geral que barre essa política de retirada de direitos”, finaliza.
Flávio Sereno, coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFJF lembra que a mobilização é importante para fortalecer a defesa dos direitos que estão sendo retirados. “Hoje, desde seis e meia da manhã, nós do Sintufejuf, junto à APES e ao DCE, estamos visitando unidades em que são prestados serviços de saúde através da Universidade Federal de Juiz de Fora. Estivemos no Hospital Universitário, na Farmácia Universitária que distribui medicamentos do SUS, na Faculdade de Odontologia que oferece tratamento gratuito para a população mais pobre. Estivemos no Instituto Federal que já está sofrendo com o corte das verbas. E estamos todos e todas nesse momento nessa manifestação para dizer que quem está coagindo os trabalhadores e estudantes é esse governo que quer acabar com o nosso futuro fazendo reforma da Previdência e destruindo a educação pública”, afirma.
Amarildo Romanazzi, presidente do SINSERPU- JF (Sindicato dos Servidores Públicos de Juiz de Fora), afirma que a união da força de luta da juventude e dos trabalhadores é a única forma de barrar a reforma da previdência, o corte de verbas para educação e toda a retirada de direitos que vem sendo anunciada. “Se essa união for mantida, no dia 14 estaremos com, no mínimo, 50 mil pessoas em Juiz de Fora”, comenta.
Histórico
Em março deste ano, o governo anunciou um decreto para bloqueio de R$ 29 bilhões do orçamento 2019, sendo que desse total, R$ 5,8 bilhões da educação foram contingenciados. Os dados pioram porque desse valor, R$ 1,704 bilhão recai sobre o ensino superior federal, e em maio, a Capes anunciou a suspensão da concessão de bolsas de mestrado e doutorado.
Após os protestos de 15 de maio, que levaram milhares de pessoas às ruas, o governo disse que liberaria mais recursos para a educação, mas manteve o corte já anunciado em março. Nesta quinta (30/05), o Conselho Nacional dos Direitos Humanos recomendou que o governo reveja os bloqueios.