Deputado contou que graças a um projeto de sua autoria, Juiz de Fora conta agora com uma lei que criminaliza a dupla função
Convidado pela Câmara Municipal de Manhuaçu para falar da Lei recentemente aprovada em Juiz de Fora que criminaliza a atuação dupla de motorista como cobrador e condutor, Betão lembrou que o projeto, de sua autoria, foi feito para evitar o desgaste e exploração desses trabalhadores.”A função do motorista exige total atenção na direção do ônibus. Fazer a dupla função compromete a qualidade do serviço dele. Em Juiz de Fora nós pesquisamos para fazer essa lei e o índice de estresse de quem se submete a isso é gigante. Em Belo Horizonte teve casos de que, por estresse, motoristas nessa situação, largaram o ônibus na rua e deixaram os passageiros”, disse.
Betão fez questão ainda de ressaltar que a medida é prejudicial, porque além de retirar o emprego de um profissional qualificado é uma precarização das condições de trabalho. “Pelo que eu ouvi hoje, em Manhuaçu, o motorista recebe somente R$75 a mais por mês para exercer a função. Além de aumentar o desemprego, porque retira a vaga de um outro profissional, é um desgaste muito grande. Na proposta de reforma da Previdência proposta por Bolsonaro, esses profissionais serão muito prejudicados porque terão que trabalhar como motorista por mais de 40 anos e quem perder o emprego levará mais tempo para se aposentar”, explicou.
O vereador Cléber Benfica, autor da audiência, disse que a ausência dos trocadores é um problema sério para a cidade. “Temos registros de acidentes no trânsito e essa medida impacta na produtividade dos motoristas e na economia da cidade. Por isso a Câmara conta com um projeto que prevê a volta dos trabalhadores. Em cidades como Belo Horizonte, a gente sabe que os problemas ligados a falta de cobrador aumentaram”, explicou.
Há uma década atuando sem os cobradores, os cerca de 90 mil usuários reclamam da qualidade da prestação do serviço e do fechamento dos postos de trabalho. De acordo com o Presidente da Associação de Moradores do bairro Matias, José Maria da Silva, “o serviço de ônibus em Manhuaçu está muito ruim e inseguro”. Ele conta ainda que em diversos casos os motoristas não tem parado para os usuários, há uma demora no serviço e até atraso nas saídas das linhas, o que já reflete na sobrecarga do serviço.
Quem também fez questão de reclamar da forma como o serviço de transporte público tem sido oferecido na cidade é a moradora Nicolina Aparecida de Oliveira. “Eu quero pedir a vocês vereadores para que vocês olhem pelo transporte da nossa cidade. Nós precisamos dos trocadores e eles precisam do trabalho. Temos muitos idosos e os motoristas não tem parado para a gente e além disso é muito difícil de subir na parte da trás do ônibus. É muito difícil para a gente que tem mais idade”, disse.
“Hoje eu venho aqui como usuário, mas principalmente como filho de motorista e irmão de cobrador”, disse Vinícius Apolinário, Ele conta que vê de perto as dificuldade das duas profissões. “É um grande desgaste psicológico para o motorista e é também uma pena que uma pequena parcela da população tenha vindo aqui hoje se posicionar, é claro e gritante que o acúmulo de função é uma exploração”, acredita.
E como audiência pública é para ouvir a todos, teve gente que foi contrária a discussão. O motorista da empresa Viação União, Sergio Pereira Lima, motorista da prestadora do serviço, disse ser contrário à volta do cobrador. “Eu acho mais prático e além disso eu recebo mais R$75 de bonificação mensal para exercer a função sem prejuízos”, afirmou.
A fala do motorista, apesar de ter desagradado a todos, foi endossada pelo representante da empresa, Roberto. Ele alega que o problema é de cunho econômico e que além de não ser viável manter os cobradores, essa é uma tendência das grandes cidades no país. “Há 10 anos a cidade está sem cobrador e essa é uma tendência nacional. Belo Horizonte, por exemplo, conta com muito mais trânsito do que aqui e a medida vem dando certo e por isso eu não vejo porque aqui deve ser diferente. O custo disso (volta dos cobradores), até porque não existe almoço grátis, seria um aumento de cerca de R$0,50 centavos na tarifa os passageiros, porque sozinhos não conseguimos manter o serviço”, finalizou.