Erros de português, ausência de plano de estudos e suspeita de plágio. O sucesso anunciado pela Secretaria de Estado de Educação (SEE) quanto ao Plano de Estudo Tutorado (PET) não é o mesmo que alunos e professores vem comentando. Após inúmeras reclamações e denúncias, o deputado estadual Betão (PT) apresentou um requerimento cobrando da SEE, informações sobre a metodologia usada para a elaboração do PET, além de dados sobre quais setores da educação foram responsáveis pela sua elaboração e também se houve contratação e/ou supervisão de pessoal especializado (profissionais da educação).
“Os relatos são sobre erros grotescos que mais atrapalham do que ajudam os alunos. Há casos de palavras com trema, já abolida na reforma ortográfica, casos de erros historiográficos e também, a meu ver, mais grave, denúncias de plágio que devem ser apuradas”, afirma Betão.
Para responder todos os questionamentos do deputado, o requerimento cobra ainda que seja informado de onde foram retiradas as citações dos textos e se elas correspondem à citações bibliográficas mencionadas no PET’s.
Questionamentos que fizeram com que o professor Adebiano Robert Rodriguez Pereira, tirasse um tempo para analisar os PETs. O resultado foi assustador. “A política de direitos autorais é um tanto quanto duvidosa. Na verdade não houve política nem preocupação com a qualidade do material. Eu tenho feito estudo desses PEts e já levantei uma série de problemas, inclusive problemas historiográficos, com compreensões erradas de processos e fontes de baixa qualidade, algumas não científicas”, disse o professor citando que em alguns dos casos a fonte era de sites com nomes como “Newserrado”, e que o próprio PET também não é assinado.
Um dos problemas relatados pelo professor é quanto ao PET de História do 3º ano. “As apostilas do turno diurno e noturno são idênticas, pois possuem o mesmo número de aulas, portanto tudo que vale para um vale para o outro”, destaca reforçando que o que mais atrapalha no ensino dos alunos é a forma “emaranhada com que são apresentados os conteúdos sem serem relacionados, parecendo um ‘Frankenstein’, assim como os links de alguns deles que não funcionam”.
Para a professora de ensino religioso Leyla Alves Pereira Lima, a falta de estrutura do PET, e de um espaço adequado para a sua disciplina foi um fato tão grave, que gerou para ela um problema de invasão de privacidade. Ela conta que como não havia um planejamento para a disciplina dentro das apostilas, começou a reunir material para ministrar as aulas. Nesse contexto, recebeu um link para entrar em um grupo de whatsapp, para junto à outras professoras e educadores, trocarem experiências sobre a educação agora na pandemia. O que ela não esperava, é que fosse ser assediada por um número desconhecido.
“É muito complicado isso, a gente ter que trabalhar com o nosso próprio celular, porque no caso da minha disciplina o PET não atende, ele só tem o chamado conteúdo interdisciplinar, mas bem sucinto com partes como por exemplo uma placa escrito ‘muçulmano’ e mais nada. Isso obriga a gente a criar grupos para montar PET para dar ensino religioso para os alunos e passar por isso que eu passei”, relata afirmando que irá à delegacia prestar queixa.
A professora relata ainda que as dificuldades não param por aí, e sobre o aplicativo Conexão Escola, previsto para voltar a funcionar hoje, ela já “sondou”, mas até o momento a resposta foi que para a turma da manhã estava liberado, mas para a tarde estava ainda “travado”. “São muitos problemas envolvendo a tecnologia. Nós ainda temos restrições ao usar o diário digital, e às vezes há confusão de dados quanto às turmas. Minha preocupação é também com professores de cidades da zona rural que nos relatam que não têm acesso à internet e não vão ter acesso a um conteúdo correto”, finaliza.