Primeira reunião remota da Comissão de Educação que discutiu a metodologia usada em Minas durante a pandemia, contou com 50 participações interativas em reclamação ao Governo do Estado
Mais de dois meses da suspensão das aulas em função da pandemia e o governo de Minas Gerais contabiliza mais erros do que acertos na educação em ensino remoto: alunos sem acesso às aulas, cerca de 700 mil alunos sem internet, PETs com problemas estruturais como erros de português, históricos e até denúncias de plágios e falta de interação entre alunos e professores.
Para discutir esses e outros problemas envolvendo a educação em modo remoto proposta no governo Zema, o deputado estadual Betão (PT) participou da primeira reunião da Comissão de Educação deste ano, também em modo remoto. O encontro contou com a presença de alunos, profissionais da educação e representantes do setor, todos em busca de saídas urgentes para o momento atual, mas também para o setor após a pandemia.
“Por ser a pandemia uma situação nova, a Secretaria de Estado de Educação deveria ter feito um contato maior com os profissionais da educação, com professores, com as universidades federais, com especialistas e até com a Comissão de Educação, para tentar montar um projeto com o objetivo de entender as dificuldades e tentar minimizar as diferenças, como a falta de equipamentos e a falta de internet. Essa é a discussão da rede estadual mas que também pode ser levada à rede particular, que também tem professores e alunos sem acesso à internet e a equipamentos adequados”, explica Betão, que é vice-presidente da Comissão de Educação da Almg.
Betão lembrou ainda que o papel da Comissão de Educação tem sido fundamental para cobrar do governo de Minas melhorias para setor. “Hoje aprovamos diversos requerimentos, alguns já apresentados pelo nosso mandato, que cobram do governo alternativas e informações. A nossa discussão não é só para a educação durante a pandemia, mas também para a Educação pós pandemia, que irá mudar”, reforçou.
O Professor do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais – Campus Santos Dumont, Tiago Fávero de Oliveira, contou um pouco da realidade da educação na Zona da Mata mineira, onde muitas escolas da zona rural não tem sequer acesso à internet e que agora, em modo remoto, alunos e professores estão em momento de dificuldade.
“Vivemos hoje um momento complexo, que exige uma solução complexa. A primeira é não achar que educação em modo remoto é EAD, porque no EAD existe uma estrutura técnica reconhecida por lei. Hoje, pesquisas da Aneel mostram que cerca de 85% do acesso feito pela internet pelas classes D e E são feitas pelo celular, e somente 3% das pessoas tem acesso à celular e computador. Ou seja, a educação que a gente defende é a que vai vencer essas desigualdades sociais, mediada pelo diálogo pelas relações entre professor e aluno, e o ensino improvisado agora não responde a essas dificuldades” afirmou complementando que para o ensino infantil, “é humanamente impossível que uma criança fique parada em frente à televisão para assistir a aula”, frisou.
Para a professora da Universidade Federal de Minas Gerais e Coordenadora do Fórum Estadual Permanente da Educação, Analise de Jesus da Silva nesse contexto, “É impossível ensinar em um país como o Brasil, com tanta desigualdade social, reforçadas ainda mais em meio remoto”, admite.
Ela detalhou que em Minas Gerais o contexto se agrava pela falta de diálogo com a categoria profissional e com os alunos, que gerou um modelo de educação agora na pandemia que não atende a ninguém e só aguça essas desigualdades. ” O Estado deve assumir o papel dele de tomar medidas inclusivas. Em Minas, de acordo com o IBGE, cerca de 32 % das pessoas tem acesso à internet. Sobre a Rede Minas, somente 186 cidades tem esse sinal sendo que o estado tem 853 municípios. Se pensarmos no material físico a entrega dele pode colocar em risco a contaminação de alunos e profissionais da educação. Ou seja, o Estado precisa nos ouvir, porque não nos sentimos ouvidos, e por isso que aqui, nós apresentamos propostas concretas”, afirma.
O professor da rede estadual de Ribeirão das Neves, Adriano José de Paula, e diretor estadual do Sind-Ute de Minas Gerais, abriu sua fala fazendo uma chamada em homenagem aos estudantes que neste momento, pela falta de acesso ao ensino remoto, estão sem voz e não podem responder. Ele apontou alguns dos problemas do atual momento de educação que ele atribui à forma improvisada e excludente do projeto de educação desenvolvido pelo governo Zema.
“Um projeto que foi criado de uma forma improvisada, sem diálogo com os profissionais da educação de forma excludente. Os problemas são vistos de forma evidente, com centenas de alunos e professores excluídos por um projeto que não atende ninguém”, afirma.
Com as contas da sua casa vencidas na mão, Adriano lembra que hoje, dia 8 de junho, o governo de Minas ainda não divulgou a escala de pagamento dos trabalhadores da educação, que na opinião dele, é uma das categorias que estão sendo sacrificadas pelo Governo do Estado pela falta de salários e de equipamentos adequados para trabalhar.
“A forma como o Estado tem tratado os profissionais da educação não é correta porque ele coloca a responsabilidade nas costas dos professores e diretores sem apresentar propostas inclusivas. O peso de resolver os problemas da educação, muitas vezes recai sobre os professores e diretores, que estão atordoados para fazer o que a Secretaria de Educação não deu conta de fazer, que é dar resposta para estes estudantes”, afirmou.
Para a professora de História da Rede Estadual e Mestranda em História pela UFMG, Karina Fonseca a atuação do governo de Minas com o ensino remoto é catastrófica, porque além do pouco acesso à educação em modo remoto, 42% dos alunos, até o momento, tiveram acesso ao PET desde o primeiro mês da pandemia, ou seja, estão sem acesso à educação. Ela relata que muitos são os problemas com o chat do app Se Liga na Educação, com os PEts e com o conteúdo das aulas disponibilizadas.
“Nem a interação do aluno com o professor está funcionando, porque a funcionalidade do aplicativo, que estaria funcionando dia 18 de maio, até agora, dia 8 de junho, não foi lançada. Os PETs, tem claros problemas de conceito, de preconceito, erros de inglês, além de outros tantos erros que mais prejudicam do que educam”, reforça.
Quem sente diariamente os problemas relatados pelos educadores é Daiane Ketarine Silva, estudante do 3° ano da rede estadual de Belo Horizonte, ela conta que além de se sentir desmotivada pelas péssimas condições de acesso ao ensino remoto, sente a falta de interação entre professores e alunos, aliada à qualidade duvidosa do material.
“As aulas são de péssimas qualidade, tem erros gramaticais nos PETs, que não suprem as nossas dúvidas. Não sabemos o que fazer, porque o chat não funciona e não temos como mandar mensagens para os professores a não ser pelos contatos pessoais. Estamos cada vez mais desanimados e com medo do que vai acontecer no futuro, por que não temos respaldo algum”, afirma lembrando também que o valor da bolsa merenda é também muito baixo, além das aulas serem curtas e muitos confusas.
Para Karine, a atual política de atuação do governo de Minas mostra que o Estado não prioriza a educação. “Governador, somos cidadãos ou somos números? Não temos condições de imprimir as apostilas está muito caro e alguns dos meus colegas sequer tem condições de ter acesso à esse material”, desabafa.
A representante da Secretaria de Estado de Educação, Geniana Guimarães Faria, subsecretária da pasta, admitiu que ainda há muito a melhorar no ensino remoto, mas não apresentou nem um cronograma nem apontamentos práticos para essas alterações.
“Nada substitui a relação professor aluno e a nossa ideia na pandemia era ter chegado com algo minimamente estruturado para alunos e professores. Sabemos dos problemas de algumas funcionalidades e já foram feitas algumas adequações. Temos sim uma preocupação com o bem estar socioambiental dos alunos e professores e o que tem que se ser mudado e tem que ser retratado já está sendo feito”, admitiu.