Sem rumos para educação no Estado, o Governo de Minas anunciou, em coletiva, o retorno das aulas no próximo dia 5 outubro para 218 municípios que estão na onda verde do programa Minas Consciente. A volta, porém, não será obrigatória, e caberá aos municípios e às famílias dos estudantes a decisão do retorno presencial ou não. O que o Estado não confirmou ainda, é se terá infraestrutura para colocar em prática os protocolos sanitários anunciados no último dia 17 de setembro.
Conforme anunciado hoje, para quem não aderir, será mantido ensino remoto, o que poderá acarretar em ampliação da jornada dos professores e professoras. Outras 578 cidades que estão na onda amarela, podem retomar o ensino nos níveis de graduação, pós-graduação e cursos livres. De acordo com as informações dos secretários de Zema, Carlos Eduardo Amaral (Saúde) e Julia Sant’ana (Educação) o planejamento do retorno deverá ser gradativo, com início nas turmas do 3º ano do Ensino Médio, que prestarão ENEM.
De acordo com Betão, vice-presidente da Comissão de Educação da Assembleia, que desde o começo da pandemia tem cobrado respostas do Governo de Minas Gerais, o anúncio ainda é vago, e mais uma vez o governador passa a responsabilidade da gestão da pandemia para população. “O governo tem que entender o seu papel e tem que garantir que o retorno seja feito de forma uniforme e segura. Nem todo mundo terá discernimento para saber se vai ou não deixar o filho em casa ou se pode mandar para a escola. É o Estado que tem que falar se é seguro ou não”, lamenta Betão que nos últimos meses apresentou diversos requerimentos cobrando do governo Zema estudos de viabilidade para o retorno seguro das aulas.
Pais, responsáveis e educadores temem avanço da contaminação
Para o professor da rede estadual de educação, Adebiano Rodriguez, trata-se de uma transferência de responsabilidade do governo Zema. “Na prática o que eles fizeram foi transferir a responsabilidade para as famílias, que não têm condição de avaliar se é seguro ou não enviar os filhos para a escola e para as prefeituras. Além disso, o programa de aulas remotas do governo continua e os professores continuarão atendendo também em regime não presencial”, afirma.
Adebiano acredita ainda que essa autorização cria uma situação em que obriga o professor a ser “onipresente”. “Nós teremos que estar de plantão nas escolas para atender às turmas e teremos que estar também online. Como isso vai funcionar? Fora o tempo de deslocamento, que no meu caso, é longo. Nós atendemos as turmas não presenciais na escola? A maioria não oferece condições para isso, como ficará o atendimento das turmas não presenciais enquanto estaremos em deslocamento?”, conclui.
“Retornar às aulas, mesmo de forma gradual, sem o controle da pandemia – número de leitos dos hospitais em cada município, taxa de transmissão, taxa média de óbitos, etc – é muito grave e preocupante”, afirma a professora Fernanda Moura. Além da condição epidemiológica, as escolas deveriam estar com as condições estruturais perfeitamente adequadas, então, eu acredito que o governo deve é investir na melhoria das escolas, nas condições técnico sanitárias, acolhimento e capacitação dos professores”, avalia.
Fernanda considera fundamental o diálogo com o professor, o sindicato e a comunidade escolar. “A hora certa de voltar é uma pergunta muito enigmática nesse momento. As decisões devem ser tomadas baseadas em ciência, portanto, reabrir as escolas não é como abrir um bar, onde vai quem quer, ou precisa para manter seu sustento”, pontua.
Betão, que por meio da Comissão de Educação da Assembleia, cobrou sistematicamente um planejamento para a volta às aulas, com protocolos sanitários apresentados e com profissionais que possam ajudar nessa transição, mais uma vez acredita que o governo Zema “atropela” pais, alunos e profissionais de educação.
“Não houve um amplo diálogo com a categoria, nem com pais e responsáveis e nem mesmo a apresentação detalhada deste plano de retorno. Muitas questões estão em jogo, inclusive a jornada dos profissionais de educação, que já estão em sobrecarga durante a pandemia devido às aulas remotas. Com jornada presencial e online, como ficarão as condições de trabalho dos professores e professoras?”, finaliza.