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Betão preside audiência pública sobre trabalhadores da Mercedes; empresa admite que parte da produção poderá sair de Minas Gerais

Anúncio de uma possível saída da empresa poderá causar a demissão de cerca de 800 trabalhadores

O deputado Betão (PT) presidiu na tarde desta segunda-feira (15/04), audiência pública na Câmara Municipal de Juiz de Fora para tratar da atual situação dos trabalhadores da Mercedes-Benz. Durante a audiência, realizada pela Comissão de Trabalho, Previdência e Assistência Social, que reuniu dezenas de trabalhadores da empresas, representantes dos sindicatos e parlamentares, Betão apresentou requerimentos para que a empresa não concretize a saída de Juiz de Fora. “É uma causa dos trabalhadores e vamos lutar por ela. Não podemos aceitar que uma empresa, que ganhou tanto incentivo do Estado, pense em sair de Minas Gerais e demitir dezenas de trabalhadores”, afirmou.

 

Betão anunciou que apresentará à Comissão da ALMG, sete requerimentos para que a empresa se comprometa com os trabalhadores da fábrica em Juiz de Fora. Nos requerimentos, o deputado exige que a Mercedes se comprometa a  não demitir os trabalhadores nos próximos 24 meses. Também foi encaminhado pedido para que o Secretário de Estado de Fazenda passe informações sobre o porto seco, além de uma proposta para que seja regularizado o seu funcionamento. Também será enviado à Comissão  pedido de uma reunião com o governador e com representantes do Executivo, parlamentares, sindicatos, trabalhadores e responsáveis pela Mercedes-Benz. Por último, Betão encaminhou à Casa um pedido de levantamento de informações sobre vantagens, financiamentos, isenções e outros benefícios concedidos pelo governo de Minas Gerais desde o ano de 1996. 

Presente na reunião, o diretor de relações governamentais e comunicação da Mercedes-Benz, Luiz Carlos Morais, admite que poderá transferir parte das atividades de Minas Gerais para o  Espírito Santos. “Viemos aqui hoje tranquilizar os trabalhadores de que não fecharemos a fábrica em Minas Gerais, mas sim estudamos a possibilidade de transferir o desembaraço da sprinter para outro Estado por questões de ‘otimizar a produção’, de ajustes e também de economia. Sabemos que a fábrica é uma das mais modernas da unidades, com tecnologia 4.0, e com certeza reconhecemos a importância da permanência das atividades para a cidade”, disse. Durante a audiência, o representante fez questão de falar que a Mercedes continua investindo em Juiz de Fora, principalmente na parte estratégia de produção de caminhões.

Trabalhadores protestam pela manutenção da Mercedes

Para o representante do  Sindicato dos Metalúrgicos de Juiz de Fora e trabalhador da empresa, Ricardo Farinell, a atitude da empresa tem sido incoerente tendo em vista os investimentos feitos nos últimos anos. Para ele, diferente do que foi anunciado, a saída da sprinter causaria grande impacto para a economia da região. “A nossa grande questão é a partida da sprinter, que é nosso produto de maior valor e já ‘está de mala pronta’ para sair de Minas Gerais. Com isso, serão cortados 15 empregos diretos, fora os terceirizados. Logo, nossa preocupação será a partida do actros” que é  outro produto de maior valor”, reforçou lembrando que desde 5h da manhã os trabalhadores conduzem uma paralisação total.

Há 20 anos na empresa, Tarcízio Guimarães conta que vê com muita tristeza a atual situação dos trabalhadores da Mercedes. “Trabalho há duas décadas  na Mercedes, fui um dos multiplicadores de ações de lá em 1997, e hoje sou inspetor na área de qualidade. Recebi com muita tristeza, porque a gente está sempre em batalha, e a cada dois anos escutando esse papo de que a empresa vai fechar. Quando saiu a notícia da sprinter, pegou a gente de surpresa porque gera lucro e impostos para a cidade”, lamentou o trabalhador sobre os rumores da transferência do actros para São Bernardo do Campo. “De hoje, espero ações concretas da empresa”, disse ainda.

Para o presidente das Confederação Nacional dos Trabalhadores, Paulo Cayres agora é hora de os trabalhadores organizarem uma luta pela manutenção dos postos de trabalho. “Eu sou trabalhador na Ford, estou organizando uma luta em defesa dos nossos empregos. Vamos nos organizar, trabalhadores. Falaram aqui em eficiência, mas eficiência é manter os postos de trabalho! Não queremos que a Mercedes passe pelo que  a Ford passou”, afirmou.

 

Aparecida de Oliveira Pinto, da executiva nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), convoca os trabalhadores a se unirem contra a decisão. “Quero dar os parabéns aos trabalhadores da Mercedes. É assim que a gente vai construindo a nossa luta e a nossa resistência”, afirmou lembrando que os trabalhadores, assim como na Ford, devem protestar contra a decisão.

“A verdade é que o que se está em jogo é a nossa condição de trabalhador, condição de salário, condição de emprego. Nós estamos fazendo essa discussão com vocês, porque neste ano era data de comemorar os 20 anos da empresa em Minas Gerais e não a saída dela. O que me preocupa é que não vi nenhum momento da gente tratar aqui em questão humana, questão de desempregos, das famílias que ficarão desoladas, junto aos 13 milhões de desempregados que estão neste país, então eu acho que é preciso que a gente tenha consciência da importância que é a Mercedes e nós não vamos permitir”, completou. 

 

Poderes locais lutam pela manutenção da Mercedes em Juiz de Fora

O secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente, Rômulo Veiga,  disse que os impactos econômicos com a saída da empresa da região serão incalculáveis. “A força do desenvolvimento econômico da empresa para a região é gigantesca. O mais importante hoje, além da questão social é a geração de emprego e renda que ela gera para a região. Hoje, a Mercedes têm atividades fundamentais aqui na cidade, como a fabricação e pintura de caminhões e a linha de montagem de cabine da Mercedes, que hoje é a mais moderna da América Latina. Não podemos perder isso”, admite.

Para o prefeito de Juiz de Fora, Antônio Almas, o município tem se esforçado para dialogar com a Mercedes e o governo de Minas, e assim  evitar a saída da empresa da cidade. Ele lamenta essa discussão no ano em que a Mercedes completa 20 anos no município. “A prefeitura de Juiz de Fora entende que a Mercedes é fundamental para o desenvolvimento econômico de Juiz de Fora e região, para geração de emprego, renda e recursos, portanto não podemos pensar na cidade sem ela”, acredita.

O vereador Juraci Scheffer conta que chegou a buscar informações junto ao governo do Estado mas que a “interlocução com o governo de Minas é sempre muito difícil”, ele relata ainda que para a cidade, a permanência da fábrica e dos empregos dos trabalhadores é fundamental.

A Mercedes em Minas Gerais

Duas das quatro linhas da Mercedes em funcionamento em Minas Gerais estão em Juiz de Fora. Na cidade, a empresa produz dois tipos de caminhões, além de realizar o desembaraço da sprinter (dados site da Mercedes). A vinda da empresa para Minas Gerais aconteceu em 1999, graças a concessão de benefícios como isenção fiscal, doação de terreno, além de apoio para obras de infraestrutura e manutenção ao longo de uma década.

Em seu site institucional, a Mercedes reforça a importância da planta de Juiz de Fora, como destino de investimentos, destacando que a empresa é uma das mais modernas. “A unidade mineira se posiciona entre as mais modernas fábricas de caminhões do mundo, sendo uma síntese do que há de mais moderno e inovador em termos de produção”, site empresa.

Também segundo dados da Mercedes, entre 2010 a 2015, foram aplicados R$ 2,5 bilhões para modernização das fábricas e aumento da competitividade. “As tecnologias inovadoras da indústria 4.0 serão expandidas a todos os nossos processos produtivos, como às linhas de agregados (motores, câmbios e eixos) e à fabricação de chassis de ônibus em São Bernardo do Campo, como também à planta de Juiz de Fora, em Minas Gerais, onde produzimos cabinas e os caminhões Actros”, diz Philipp Schiemer. Tudo isso está programado dentro do investimento de R$ 2,4 bilhões que anunciamos recentemente para os próximos cinco anos (2022)”.

 

Fotos: Assembleia Legislativa de Minas Gerais

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