A comunidade se reuniu no centro de Lima Duarte para debater com a população a reabertura da Escola Municipal José Dôndici
Cerca de 30 moradores da comunidade de São José dos Lopes estiveram na tarde dessa quarta-feira (07) no centro de Lima Duarte para protestar contra o fechamento da escola rural (saiba mais). Munidos de uma caixa de som, microfone, pranchetas e canetas, eles recolheram assinaturas e também discutiram a importância da escola com quem passava pelo calçadão. Foram recolhidas cerca de 300 assinaturas que serão anexadas ao processo aberto pelo Ministério Público, que questiona o fechamento da Escola Municipal José Dôndici. Ainda sobre o processo, a prefeitura de Lima Duarte tem até o dia 09 de agosto para responder aos questionamentos do juiz da comarca de Lima Duarte.
Aos 14 anos, Thiago Roque, que estudou na comunidade por 6 anos e hoje estuda em Lima Duarte, diz que a existência da escola na comunidade facilita muito. Para ele, o fato de as crianças não precisarem se deslocar em uma estrada em péssimas condições, facilitaria a vida dos pais. “A distância atrapalha muito e um exemplo disso é que meus pais não conseguem ir às reuniões de pais da escola”, desabafa. Além disso, questões como bullying e brigas são constantes, porque de uma forma abrupta, são misturadas crianças com realidades diferentes. “Eu mesmo já sofri bullying na escola só porque vim da roça e tem casos de crianças que brigam nos primeiros dias de aula”, relembra. Outra questão apontada por Thiago é o rendimento escolar, que segundo ele, era maior nos Lopes já que as crianças não chegavam cansadas em casa.
Já Daniel de Paula, tesoureiro da associação de moradores e um dos organizadores da ação, disse que uma das primeiras atitudes para organizar o ato foi passar de casa em casa explicando aos moradores em que pé estava a situação, além disso ela conta que para mobilizar os moradores também usou o Whatsapp. Ele relata que está otimista quanto ao resultado da mobilização. “O ajuizamento do caso pelo Ministério Público foi um primeiro passo. Acho que teremos um resultado positivo”, acredita. Daniel também fez uma analogia que explicou como a situação é grave e afeta toda comunidade. “Quando você tem uma horta em casa, você cuida, coloca mais terra, aduba, tudo para que ela cresça da melhor maneira possível. Com as crianças é a mesma coisa. De perto, você educa, corrige e acompanha, mas assim como nas hortas, quando a verdura vem de longe, você não sabe o que tem ali, pode ter agrotóxico, ou até veneno. Já para as crianças, quando elas estão longe, podem ser assediadas e maltratadas e não é isso que a gente quer”, afirma.
Outra ex-aluna da escola é Grasielle Rodrigues de 20 anos. Ela que estudou os seis primeiros anos na escola diz “é uma sacanagem o que estão fazendo com as crianças, elas precisam acordar muito cedo, encarar o frio, além da estrada que é péssima”, avalia. Para ela, a mudança de escola compromete a infância dessas crianças, já que elas passam boa parte do dia dormindo devido ao cansaço do trajeto entre a escola e a suas casas e não brincando na comunidade. A situação não é novidade para os moradores, conforme conta Davi Ribeiro, de 18 anos. Segundo ele, quando estava na terceira série (atual quarto ano) os alunos foram transferidos e a escola foi fechada em uma “experiência”. Porém, após um ano de fechamento os alunos não se adaptaram e a escola foi reaberta. Assim como Thiago, Davi aponta o preconceito com os moradores da zona rural como um grande obstáculo “A escola em São José dos Lopes permite mais interação, temos uma convivência melhor, porque muitas vezes sofremos bullying por ser da zona rural” e afirma “se eu pudesse, estudava lá a vida toda”, complementou.
Estrada preocupa pais e moradores
Um dos principais pontos levantados pelos moradores de São José dos Lopes, além dos ônibus em péssimas condições, o trajeto de 19 quilômetros percorridos pelo ônibus também expõe as crianças a risco de acidentes. Moradora da cidade de Lima Duarte, Maria da Glória de Deus de 68 anos diz que a escola nunca poderia sair da comunidade dos Lopes. Maria nasceu em Serra Negra, que também é distrito de Lima Duarte, e teve suas primeiras aulas lecionadas no porão da casa em que morava. Segundo ela, seu pai pagava uma professora que fazia a alfabetização dela e de seus irmãos. “Eu saí da roça para meus filhos estudarem e não terem que pegar ônibus. Se não fosse isso, eu teria ficado, lá a vida era melhor”. Sobre o abaixo-assinado, ela diz que “se todo mundo tiver assinado tá bom. Nossa roça está acabando e temos que lutar pela escola da comunidade”. Ela ainda diz que aconselha seu filho “quero que meu filho tenha um futuro, que faça uma faculdade”, reforça.
Outra reclamação feita é a falta de consulta à comunidade durante o processo de fechamento. Pelo relato dos moradores, a comunidade não foi ouvida durante a decisão de fechar ou não a escola. Rosângela Rosa de 42 anos é líder comunitária e mãe de 3 filhos, sendo que a caçula, de apenas 3 anos, ingressaria na escola no próximo ano. “Eu quero que minha filha estude na escola da comunidade”, afirmou. Rosangela diz ainda ter esperança na reabertura da escola. “Nós temos o apoio da população, dos vereadores, do deputado Betão e de muitos professores. Espero que o prefeito veja a nossa situação e que tenha ‘tenha coração’ e reabra a escola”. Ela lembra que ainda na semana passada geou com a chegada de uma frente fria à região, e mesmo assim as crianças tiveram que sair da cama às 5 horas da manhã. A questão da moradia também é um ponto delicado apontado. Conforme relatado pela moradora, algumas famílias já começaram a sair da localidade por conta do fechamento da escola, o que para ela é economicamente inviável porque a comunidade é ativa e unida. Além das mais de 30 crianças que já estudam na comunidade, para o próximo ano são esperadas mais 9 que vão completar 4 anos e estarão em idade escolar, o que aumentará ainda mais a demanda para que a escola esteja aberta.