Rede estadual completa um mês em greve; trabalhadores de outras categorias apoiam a causa e avisam que não vão aceitar veto parcial de Zema quanto à recomposição salarial
Além dos impactos do não pagamento do Piso Salarial Profissional Nacional do magistério, que está previsto na Constituição Federal, a Comissão da Educação, Ciência e Tecnologia recebeu hoje, diversas categorias de trabalhadores, em sua maioria servidores públicos, em protestos contra o governo Zema. No dia em que a greve da rede estadual da Educação completa um mês, trabalhadores do setor cobraram uma resposta urgente do governo quanto à sanção parcial da emenda da recomposição salarial.
Em nota, o governo disse que “o governador Romeu Zema decidiu sancionar parcialmente o projeto de lei que trata da recomposição salarial para as forças de Segurança Pública. Foi sancionado o primeiro artigo, que repõe em 13% os vencimentos em função das perdas inflacionárias. Todos os demais foram vetados, incluindo a emenda que estende o reajuste a outras categorias”, afirmou.
A decisão revoltou todas as categorias e foi baseada, segundo o governo mineiro, nos seguintes dados “Tal decisão foi tomada levando em consideração uma análise profunda, criteriosa e responsável acerca do cenário financeiro do Estado e dos desdobramentos econômicos do país”, mais uma vez o governo lamenta de forma infundada.
“Estamos diante de uma crise na educação em Minas e no Brasil. No Estado, a greve completa um mês, aqui em Belo Horizonte, chega há 13 dias, e em Juiz de Fora o magistério anunciou hoje que está em greve. O que os trabalhadores querem é o direito garantido por lei do pagamento do piso salarial, além, no caso da rede estadual, do pagamento do 13° por parte do governador e melhores condições de trabalho”, explica deputado Betão vice-presidente da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia.
“O governo não pode escolher, não pode falar quem ele quer priorizar ou não. Estamos falando do pagamento do piso, de um direito que está garantido na lei. O que Zema tem feito é escolhido não pagar o piso e ainda falar que vai sancionar somente o reajuste da segurança pública. Não estamos em greve, mas se Zema não sancionar dessa forma a recomposição, vamos parar”, disse, Simone Medeiros de Carvalho, da Associação dos Docentes da Uemg (Aduemg).
Durante a audiência, Neuma Soares, representante da Comissão de Pais e Mães de Alunos da Escola Estadual Professora Maria Mazzi Guastaferro, entregou uma carta pública aberta à representante do Governo do Estado, direcionada ao governador Zema, solicitando o atendimento das demandas da educação mineira.
“O governador vai sentir de verdade qual é o peso da educação quando ele souber que pais e responsáveis estão com vocês. Não podemos aceitar que vocês trabalhem sem receber. Isso não é educar e não queremos que nossos filhos tenham esse exemplo. Que fique claro, estamos com vocês”, disse.
A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Únicos da Educação de Minas Gerais (Sindute-MG), Denise Romano relatou que a falta de diálogo inviabiliza qualquer avanço da categoria, e que os ataques que o setor tem sofrido faz com que a greve seja mantida.
“Fomos atacadas durante a realização de uma das mesas de diálogo, sendo chamada de cretina, um absurdo esse governo que só agride a educação, realiza cortes, não paga o piso e ainda não sanciona a recomposição. Assim, nesse cenário, a greve vai continuar”, disse.
Há 39 anos dentro da sala de aula a, hoje, professora aposentada, Ana Aparecida, da cidade de Campo Belo relata que a audiência de hoje não é um pedido, é uma exigência
“Estamos diante de um governo que não cumpre a lei. Nós estamos pleiteando os acordos que foram firmados na lei. O piso já é lei e se a gente for somar tudo dá mais do que os 30% oferecidos pelo governo. Então a gente quer é que seja pago o que nos é devido por lei, só isso”, afirmou Ana, que também é pedagoga e alfabetizadora.
Hoje, o governo não cumpre o artigo 201-A da Constituição Mineira, segundo o qual o vencimento inicial das carreiras dos profissionais de magistério da educação básica não pode ser inferior ao valor integral vigente, com as atualizações, do piso salarial nacional dos profissionais do magistério público da educação básica.
Categorias se unem pela recomposição e por melhores condições
“O nosso alento foi vocês terem entrado de greve, porque se hoje você tem 30 dias de paralisação, nós já temos 60”, afirma Carlos Augusto dos Passos Martins, da Associação Sindical dos Trabalhadores em Hospitais de Minas Gerais.
Ele conta que a luta “deve ser uma só, e que o pagamento do piso é também uma demanda dos trabalhadores da saúde, dos petroleiros, de todas as categorias. Estamos diante de um governo que não dialoga com o funcionalismo público por isso, temos que nos unir e não fraquejar”, reforçou.
Com um exemplo de sucesso de que a greve é sim um mecanismo de negociação, Alexandre Finamori, do Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais, falou dos 19 dias de greve nacional dos petroleiros e como ela foi a causa de todos os trabalhadores contra as demissões dos petroleiros, e “por isso eu venho aqui, falar que seja com o piso, seja com a recomposição, os petroleiros estão com vocês e vão andar lado a lado. Não podemos aceitar um governo que não dialoga com a classe trabalhadora’, disse.
Zona da Mata também luta pelo piso salarial e permanece em greve
A luta pelo pagamento do piso nacional, que também não é cumprido nas cidades da Zona da Mata, como por exemplo Juiz de Fora, também foi tema da reunião de hoje realizada pelo Sindicato dos Professores Municipais de Juiz de Fora, Sinpro-JF. Na assembleia, o magistério municipal resolveu manter a greve, que conta com 65% de adesão das escolas.
Na rede estadual, a área que abrange o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (SindUTE) Subsede JF, que engloba 26 municípios do entorno de Juiz de Fora, está com 60% de adesão dos profissionais. De acordo com o SindUTE-JF a greve será mantida e a categoria realizou na manhã de hoje uma manifestação na sede da Superintendência Regional de Ensino de Juiz de Fora.