Tecidos, elásticos, linhas e muita solidariedade é o que mobiliza diversas ações de costureiras e costureiros em Juiz de Fora
Desde que a pandemia de coronavírus desembarcou no Brasil, uma das principais preocupações de diversos movimentos sociais foi a de como proteger as pessoas que já vivem em situação de vulnerabilidade social, e que por consequência muitas vezes não tem acesso aos meios mais básicos como o uso de máscaras.
A situação não é diferente em Juiz de Fora, cidade que a partir de um decreto municipal torna obrigatório o uso de máscaras, mesmo que caseiras, nas ruas, transporte coletivo e nos estabelecimentos comerciais que permanecem abertos por prestarem serviços essenciais, como farmácias e supermercados, por exemplo.
Com isso, surge a demanda de uso de muitas pessoas que não podem comprar ou até fazer suas máscaras. A ausência de ações mais efetivas das esferas, federal, estadual e municipal despertou em alguns grupos a necessidade de atender estas pessoas que com a pandemia ficaram mais expostos.
Solidariedade é negócio de família
É o caso de Rosângela Gonzaga, que ficou desempregada após a redução da atividade econômica na cidade, e seu marido, que é motorista por aplicativo viu a corridas diminuírem muito por conta do isolamento social. “Ao invés de ficar em casa sofrendo com uma coisa que a gente não tem como resolver, nós resolvemos fazer as máscaras”, conta.
Rosângela explica ainda que a ideia surgiu a partir de uma conversa com a psicóloga responsável pelo Centro de Referência em Direitos Humanos, que falou sobre a dificuldade de atender aos cidadãos em situação de rua da cidade. A família toda foi envolvida na ação, por exemplo o filho Jonathan e o genro Lucas, que hoje operam as máquinas de costura, enquanto ela corta e arremata, e o marido Junior busca material. “A família toda em casa, a família toda ajudando”, reforça.
Ela ainda explica como é a sensação de quem está ajudando neste momento tão difícil. “Foi muito legal esse projeto. Por que a gente fica ansioso com as situações normais, de desemprego, de contas e aí você sabe que o que está ao seu alcance de fazer, você está fazendo”, admite.
Da máquina parada para mais de 100 máscaras distribuídas
Ainda criança, a bancária Aretuza Costa ganhou de sua mãe, que era costureira, uma máquina de costura manual, porém com o tempo o equipamento ficou parado e sem muita utilidade.
Há quatro anos ela decidiu instalar um motor na máquina o que ajudou na confecção de parte do enxoval do filho e agora com a chegada da pandemia, as linhas e tecidos ganharam espaço no dia a dia dela. “Comecei fazendo aquela de hospital que tem três frisos, depois eu peguei o modelo da N95”, detalha .
Mesmo mantendo sua rotina de trabalho, Aretuza conseguiu até o momento entregar mais de 100 máscaras, a maior parte entregues para um grupo que atende moradores em situação de rua em Juiz de Fora, chamado Anjos da Rua. “Eu fui fazendo pra mim, aí depois comecei a fazer para doar. Não fiz uma quantidade grande não”
Ela conta como é a sensação de estar ajudando no combate a doença “Se uma pessoa deixar de pegar o coronavírus por todas as vezes que eu sentei pra fazer, eu acho que vai valer à pena”.
Solidariedade em vários pontos da cidade
Tão contagiosa quanto a COVID-19 é a solidariedade. O Grupo Arte Saúde Linhares que promove feiras de artesanato na cidade e por conta da pandemia estava com suas atividades paralisadas, uniu 48 costureiras que doaram materiais e mão de obra para produção das máscaras.
Até o momento, foram distribuídas cerca de 2500 unidades em diversas regiões de Juiz de Fora, além de UPAS, UAPS, e hospitais. Segundo Marilza Fátima de Souza, que é agente comunitária de saúde do bairro Linhares, a ideia surgiu quando ela andando pelas ruas do bairro viu diversas máscaras descartadas pela rua, o que pode contribuir para o aumento da contaminação.
Ela lembra que as pessoas que vivem em vulnerabilidade social, não tem condições financeiras para adquirir máscaras descartáveis “Nós de comunidade não temos como ficar comprando máscara toda hora para ficar jogando fora”, relata.
A agente de saúde salienta que o trabalho de conscientização feito pelos trabalhadores e trabalhadoras do posto de saúde do bairro tem ajudado muito para que as pessoas entendam os riscos da doença. “Nós fomos no comércio local e todo funcionário que estava sem máscara, a gente doou. Eu acho que o povo está bem consciente”, acredita.
Para a distribuição das máscaras, o grupo adotou um sistema de que cada costureira doaria para as unidades de saúde mais próximas de casa, inclusive para resguardar as medidas de distanciamento social o que permitiu que diversas regiões da cidade fossem atendidas com a ação.